Em 10 de julho de 1936, nasceu Alysson Paolinelli, na pequena Bambuí, 5.000 habitantes, Minas Gerais. A cidade fica a 270 km de Belo Horizonte, capital do Estado. Pai engenheiro agrônomo e responsável pelo posto agropecuário da cidade, Alysson percebeu ali a importância da atuação do setor público no desenvolvimento agropecuário e na evolução da vida e renda da população. Uma semente que germinou como visões e sonhos para a agricultura brasileira, ainda na sua juventude.
Vida e Obra
Agrônomo e professor
Deixou a cidade natal aos 15 anos para cursar o ensino médio (“científico”) em Lavras/MG, onde também se formou engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), em 1959. No mesmo ano tornou-se professor de Hidráulica, Irrigação e Drenagem na instituição, onde mais tarde ocuparia o cargo de Diretor, até 1970.
O desafio de Minas
Convidado para a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais em 1971, assumiu com o desafio de implantar uma nova matriz produtiva no Estado, baseada na incorporação de tecnologia e em políticas de crédito estimuladoras de modernização. Criou então o Programa de Crédito Integrado (PCI), visando implantar projetos de colonização orientados por assistência técnica, uma política inovadora no Brasil rural daquela época.
Berço da transformação
Em 1973, um outro projeto deu destaque à atuação de Paolinelli em Minas Gerais: o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), em parceria com a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), que se tornaria modelo para a criação de outros projetos de colonização agrícola no Cerrado brasileiro. Como no Mato Grosso (foto) e vários outros Estados.
No Ministério, mudou o Brasil
O trabalho como Secretário de Agricultura chamou a atenção do Governo Federal, que convidou Alysson Paolinelli para o Ministério da Agricultura. Assumiu em março de 1974 e abriu um período de políticas marcantes para o setor e para o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro.
Priorizou a ciência e estruturou a Embrapa, criada na gestão do Ministro da Agricultura Cirne Lima, em 1972. Quando chegou ao Ministério, Paolinelli atraiu os melhores cérebros das universidades e órgãos de assistência técnica, oferecendo mais de 2.000 bolsas de estudo para Mestrado e Doutorado, nas melhores universidades de ciências agrárias do mundo.
A missão: trazer para o Brasil o que havia de mais moderno em pesquisa e tecnologia agrícola, no planeta. O objetivo era expandir a agricultura de modo acelerado, para reduzir importações de alimentos e atingir a autossuficiência. A meta era intensificar a ocupação racional das áreas do Centro-Oeste.
Revolução agrícola tropical
Para lidar com esse desafio, Paolinelli criou em 1975 o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro), com novos mecanismos de política agrícola e levando infraestrutura e tecnologia para produzir alimentos na região.
Para apoiar o Polocentro com pesquisa agrícola específica, implantou a Embrapa Cerrados, impulsionando o grande salto da agricultura brasileira: entre 1975 e 2020, nossa produção de grãos cresceu 6,4 vezes (de 39,4 milhões de t para 251,9 milhões de t) e a área plantada apenas dobrou (de 32,8 para 65,2 milhões de ha). Foi a maior revolução agrícola tropical sustentável da história.
Olhando o futuro
Muito ativo na cena atual da agricultura brasileira, Paolinelli continua abrindo horizontes com suas visões e liderança. Fundou (2012) e presidiu (até 2023) o Fórum do Futuro, voltado ao debate sobre o desenvolvimento sustentável, com foco em inovação, tecnologia e pesquisa.
No Fórum, estava também à frente do Projeto Biomas Tropicais, que oferece um novo caminho para a produção alimentar, preconizando a precedência da ciência na definição dos limites de uso sustentável dos recursos de cada bioma, antes do seu uso econômico.
E ainda atual como titular da Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq-USP, que promove reflexões e atividades interdisciplinares com professores, alunos e organizações do setor privado.